quinta-feira, 1 de abril de 2010

Hollywood Rock 1990


Em Janeiro de 1990, Augusto, Carlos e Humberto subiram no mesmo palco em que Dylan e Gil comandaram suas apresentações. Os Engenheiros comandaram o Hollywood Rock.

Antes de iniciarmos mais este capítulo sobre a grande saga GLM, não custa nada contar também a história do festival Hollywood Rock.
O Hollywood Rock foi um festival organizado pelo grupo Souza Cruz (empresa especializada no ramo do tabaco e subsidiária da British American Tobacco) e apesar de um começo modesto, teve grande repercussão internacional a medida que os grandes artistas do momento, cada vez mais apresentavam-se no festival. Antes de uma lei aprovada pelo senado, proibindo companhias que trabalhavam com tabaco e álcool (skol rock) de patrocinar eventos culturais, foram realizados 8 festivais vendidos como "Hollywood Rock".

"esses grandes eventos são um grande saco na verdade, parece uma quermesse, São João, essas coisas assim, não é um lugar legal pra fazer som, fica uma briga de ego, meio festival, quem se deu melhor, quem se deu pior, mas as bandas nacionais não se podem furtar a tocar"

Gessinger -
comentando sobre o Hollywood Rock em entrevista concedida ao programa livre no ano de 1992.

Comentários - Hollywood Rock 1990

A praça da apoteose estava lá, incrível cena, público espetacular e eu sempre que vejo o vídeo desse show, fico em dúvida se estavam ali fãs dos engenheiros ou militantes e patriotas protestando e cantando por um país melhor.

Carlos, Augusto e Humberto estavam mesmo muito a fim de sobreviver àquele dia, fazendo um show histórico, repleto de momentos emocionantes e alguns ritos de passagem. Nada melhor que começar então com uma "ouça o que eu digo, não ouça ninguém" da vida, pra colocar tudo e todos nos seus devidos lugares... ok! Não estamos aqui para idealizar com vocês, tão pouco dizer algo ou ter alguma atidude messiânica, viemos tocar nossas músicas que apenas refletem (ou repetem) o que o cotidiano diz sobre nossa triste realidade ... isso é algo que de fato me tornou um grande admirador do trabalho desses caras, no popular, eles faziam o deles sem precisar dar discurso ou "pagar pau" pra ninguém. Este linguajar indireto da banda tinha em meu modo de ver, uma dimensão "que não precisa (e não tem) explicação".

E a roupa que o power trio vestia neste dia? Realmente hilário e apropriado pras noites cariocas o Humberto com um colete meio Eastwood em "os indomáveis", o pai Augusto todo de branco e Carlos acabando de sair da oficina com seu macacão laranja... rsrsrs... apenas tirando uma onda com estes 3 grandes caras hehehe...

Tribos e tribunais
! Introdução versão ouça o que eu digo! Humberto cantando "welcome to the machine" as vésperas do Collor abrir as pernas do Brasil para a euforia industrial. Lindo demais ver Humberto e Augusto trocando informações entre baixo e guitarra ao fim dessa canção! Fodas!

A revolta dos dândis
foi a terceira música e todos cantaram a uma só voz "ôôôô" do começo ao fim, falando em fim, Augusto Licks nos brinda com uma obra de arte, um solo improvisado de blues passando por intermináveis escalas, Humberto cantando: "eu me sinto um estrangeiro e vocês não?" e Carlos apenas acompanhando as palmas de uma platéia em êxtase.

Longe demais tem início com uma versão meio "adaptada" do alívio imediato, Augusto trás uma timbragem diferente para sua guitarra, tirando um som "ula ula havaiano", após o refrão ele acelera um pouco e depois termina num ska, a música passando por diferentes ritmos, excelente idéia! Deixei de escrever no post do Alívio Imediato e não poderia deixar passar batido desta vez a homenagem que os Engenheiros fazem ao Rush nessa música. Eles tocam um riff que lembra muito "Tom Sawyer". Comentar os solos de Augusto Licks, pelo menos neste blog, é um excelente pleonasmo. Aqui, Augusto preenche todos os vazios com um solo de rock progressivo que vai do Gênesis ao Pink Floyd.

"Sabia que jogaram uma bomba na casa do Caetano Veloso ontem? Jogaram!" com esta metáfora em relação a canção que se iniciava (toda forma de poder) Humberto lembrava da noite anterior, em que Caetano, depois de criticar sutilmente o prefeito de Salvador, teve uma sutil resposta do soteropolitano manda chuva. Lembra do linguajar indireto sem puxar sardinha? Aqui Humberto faz seu sutil comentário sobre o grosseiro coronelismo da época(e até hoje vivido em nosso país como no caso Dorothy Stang). Fora isso, temos os mesmos arranjos tocados no canecão.

Nunca pensei dizer que "era um garoto" seria minha música favorita de algum show do GLM. Pois no Hollywood Rock de 1990 esta música arrepiou e falou por si própria. Sempre escutei essa canção esperando os solos militares de Augusto e ao ver o vídeo desse show pela primeira vez tive uma grata surpresa. Logo de cara esperava ouvir o tradicional trecho do Hino da Independência (apesar de que em janeiro de 1990 eles ainda não haviam lançado a versão original no papa é pop), mas Augusto começa com um outro trecho do hino escrito por Evaristo da Veiga, "brava gente brasileira" passando por "pra frente brasil, salve a seleção" e finalizando em uníssoso com a platéia um memorável "olê olê olê olá Lula! Lula" ... como queria estar nesse show para cantar alto e bravo todos estes hinos... voltando pra música, Augusto segue com o hoje tradicional "ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil" e nunca houve até hoje uma versão de "era um garoto" fazendo tanto sentido como neste dia.

*Augusto Licks, ainda sola um outro hino no final da música, mas por total desconhecimento não o citei. Se alguém tiver conhecimento, por gentileza, informar nos comentários.

Havia um presente surpresa para os fãs. Gessinger estava de frente para o teclado e naquele momento mostrava que não estava ali só para fazer bases simples para Augusto solar. Em terra de gigantes Humberto assumia a frente como tecladista dos Engenheiros. Tudo bem! Ele ainda estava arranhando, mas todos sabemos que este cara, um dia na vida tocou piano na mesma sala em que estava Wagner Tiso a frente de uma orquestra. Ainda deu tempo de incrementar à música: "a juventude são várias bandas numa propaganda de cigarros" em alusão ao hollywood rock e "a cara limpa, a roupa suja esperando que o governo mude". Collor assumia então com a cara suja e a roupa limpa.

Sabemos que Humberto Gessinger está longe de ser um Ray Manzarek (tecladista do the doors), mas é muito bacana vê-lo tocando intercalando o baixo no próprio teclado como em somos quem podemos ser. Legal a nova roupagem dada pela banda, com Augusto fazendo um novo arranjo para sua guitarra e Carlos sendo acionado. Humberto na última parte sai dos teclados e vai para o baixo fretless. Naquela época era Rush no café e na janta.

Sempre acho estranho nau à deriva sem a programação de sampler no início, mas em relação ao que tocaram no canecão, já estavam mais entrosados com esta canção. Não há muito o que dizer sobre a maneira como tocaram no hollywood rock. Apenas deixar rolar e curtir cada frase e arranjo desta magnífica música.

Sou suspeito pra dizer, mas gosto apenas da versão GLM de sopa de letrinhas. Ela tem uma combinação boa entre os slaps no baixo e a bateria. Logicamente que era difícil pro Humberto tocar e cantar a linha de baixo desenvolvida por Marcelo Pitz, mas acho que ele foi bastante criativo por não deixar esta canção ficar pelo caminho.

Sem deixar a poeira baixar, Augusto emenda sopa de letrinhas com a tão aguardada infinita highway. Na famosa introdução, Gessinger acrescenta teclados (sim! Eles conseguiam colocar teclados em infinita highway). Os arranjos são praticamente os mesmos da versão tocada no alívio imediato porém, naquela época tinham o costume de citar músicas ao final das infinitas estrofes, às vezes rolava "feira moderna" do Beto Guedes. Desta vez rolou "eu sou apenas um rapaz latino americano", talvez Gessinger portando um exótico bigode loiro, estava a fim de prestar uma homenagem ao nosso querido Belchior.

A última canção foi o retrato de todo aquele momento. Todos na apoteose precisavam de um alívio imediato. Na verdade, o público esperava que a chuva trouxesse o dilúvio, pois todos já estavam em delírio. O suave baixo de Gessinger, a simétrica bateria de Maltz e claro, o fantástico solo de Licks colaboraram para isso.

As frases ditas por Gessinger ao final desse show não são tudo, mas com certeza são fundamentais pra resumir não só esta grande apresentação, mas todo momento vivido pelo país naquela época:

"que a chuva traga, que a noite traga, que uma banda toque, que um isqueiro se acenda, que o governo mude, que o presidente traga alívio... alívio... alívio imediato... IMEDIATO! IMEDIATO!"

Augusto licks ... guitarra e teclado
Carlos Maltz ... bateria
Humberto Gessinger ... baixo, teclados e voz

Tchau!
Valeu!

DOWNLOADS

Engenheiros do Hawaii - Hollywood Rock (1990) - Parte 1

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7 comentários:

A Wild Garden disse...

Eu também estava lá, a camiseta com o símbolo da paz... Passei muitos anos fingindo que esqueci. Mas não adiantou!

Anônimo disse...

Caraca Cara!! Meu grande Mentor em Eng Haw vivia me falando desse Show!

até que enfim conseguimos ele!!

Parabéns pelo Blog, ta Muito bom, continue assim, eu escrevo um Blog tbm e o seu tá muito detalhado, como dever ser um blog de verdade!

#EngHaw4ever

Passado Contemporâneo Moderno disse...

Muito bom o Blog Hehehe

Unknown disse...

Os comentários narrados me fez sentir no próprio show!Vlw pelo blog!

O Neto do Herculano disse...

Parabéns, pelo blog.
Ótimas postagens: a formação clássica merece.

Carriel disse...

Você já deve saber depois de 2 anos de post mas tudo bem...

o que o augustinho toca no final de era um garoto é a música do Brisola da época... só.

Diogo Tadeu Silveira disse...

Em "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones" Augusto Licks tocou trechos dos hinos nacionais do Brasil, dos Estados Unidos, da União Soviética, da França, o hino da Independência do Brasil, Pra Frente Brasil e o jingle do Leonel Brizola.