terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

TRILOGIA PARTE II - OUÇA O QUE EU DIGO: NÃO OUÇA NINGUÉM


Tava na hora de dar sequência a história! Depois de 4 meses após a publicação da primeira parte da trilogia, começamos então a falar de OUÇA O QUE EU DIGO, NÃO OUÇA NINGUÉM. O terceiro disco dos Engenheiros do Hawaii e segundo da formação GLM não é desses discos tão lembrados e aclamados pelos fãs. Nas comunidades e listas de discussão sempre encontramos muita devoção e material do várias variáveis e glm (talvez os dois mais saudosos). Mas vou dizer pra vocês:

Ouça o que eu digo foi o álbum que fez minha cabeça durante algum tempo de 2002. Foi um álbum que fez com que eu conhecesse um instrumento chamado baixo e passasse a amá-lo. Acho que através desse post (e de muitas outras maneiras) podemos fazer uma grande homenagem a um disco que me leva a 1988, Dylan, pink floyd e a ver navios.

Faixas

1. Ouça o que eu digo, não ouça ninguém (Humberto Gessinger)

A música começa com um emaranhado de vozes de Gessinger dizendo: "ouça o que digo, não ouça ninguém". GLM nos convida de cara para sua doutrina de engrenagens, frases feitas e rock progressivo. Ao escutarmos a primeira linha de baixo dessa canção já podemos sacar que Gessinger está mais a vontade com seu instrumento. O baixo de ouça o que eu digo é muito bom de se ouvir. E não pára por aí! Licks (em relação ao revolta dos dândis) tem uma guitarra mais limpa e cool. A música tem aquelas viradinhas precisas e necessárias para torná-la inesquecível. A banda começa um trabalho nas letras que retrata mais a realidade do nosso país como a pobreza, corrupção, a desigualdade e o olhar da sociedade para esses problemas. Está entre os títulos de canção da banda que mais gosto.

frase favorita: "pele morena, vendendo jornais, precisando de mais venenos mortais."

2. Cidade em chamas (Humberto Gessinger)

Atenção para cidade em chamas! Aqui começa uma característica da banda que seguiria em outros discos. Recursos de teclado como barulhos de bomba e sirenes ligadas. Característica fundamental para bandas de rock progressivo. A letra é um outro discurso político social sobre a selva que se transformavam as cidades. A música é muito bem encaixada com uma linha de baixo muito boa, um solo de guitarra de Licks fantástico. Ele definitivamente pode nos apresentar nessa canção suas técnicas de hammer-ons e pull-offs. Maltz como sempre mantém a cozinha limpa lá atrás.

Frase favorita: "eu sei que eles têm razão, mas a razão é só o que eles têm"

3. Somos quem podemos ser (Humberto Gessinger)

Uma obra de arte. Uma das letras mais belas que conheço. Humberto realmente acertou em cheio com essa canção. Acho que em revolta já podíamos notar indícios da genialidade de Gessinger com as palavras. Em somos quem podemos ser temos que realmente considerar isso como fato. A música é dedicada a dedilhados da guitarra semi acústica de Humberto com riffs na guitarra de Licks, um solo de teclado e aquele velho som de revólver no momento que Gessinger canta "um disparo para um coração".
Grande momento dos engenheiros do hawaii!

Frase favorita: "um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão"

4. Sob o tapete (Humberto Gessinger/Augusto Licks)

Talvez esteja entre as linhas de baixo mais legais dos engenheiros. Humberto caprichou com seu rickenbacker. Com uma letra que mescla bem romance, jovem guarda e o cotidiano temos a banda produzindo um bom hit. Não entendo o porquê da banda não ter levado essa música para seu repertório principal. Considero uma das canções mais empolgantes da banda. É uma baladinha bacana de se ouvir sem dúvida.

Trecho favorito: "há mais de uma semana eu não sei que horas são, havia um romance ao alcance da mão, mas o cigarro apagou e me ensinou um macete, de esconder as cinzas sob o tapete."

5. Desde quando? (Humberto Gessinger)

Que música! Começa com tudo. Licks e seus recursos! É impressionante como ele faz de uma técnica difícil de se executar na guitarra, praticamente uma frase inteira da música. Gessinger logo aprendeu com o parceiro que não podia ficar pra trás e nos brinda com uma linha de baixo muito foda! Carlos bate forte na caixa! Como se deve fazer! Temos nas letras, um Humberto rebelde! Não aquela rebeldia falida de "fé nenhuma". Ali havia argumento. Os caras estavam começando a tirar da manga várias cartas.Full house ou full hand? GLM!

Trechos favoritos:

"desde quando poesia é verdade, desde quando verdade vicia, eu tô esperando que você me diga desde aquele dia"

"rock´n roll é o que se pensa, e o que se pensa não é o que se faz, o que se faz só faz sentido quando vivemos em paz"

6. Nunca se sabe (Humberto Gessinger)

Talvez o grande momento do disco. É a música que sempre espero! Pra começar a refletir. Lembrar de quantas vezes sozinho a noite andei cantando nunca se sabe. Uma música recheada de frases de efeito e frases que realmente marcam, se encaixam. A música é voltada para a ibanez semi acústica de Gessinger. Um teclado sintetizado de Licks na introdução. Maltz acerta e muito na entrada da bateria. Nunca se sabe é um clássico para os fãs de fé dos engenheiros.

Trechos favoritos:

"sei que parecem idiotas, as rotas que eu traço, mas tenho que traçá-las eu mesmo"

"sem dúvida a dúvida é um fato, sem fatos não sai o jornal, sem saída ficamos todos presos, aqui dentro faz muito calor"

"nem sempre faço o que é melhor pra mim, mas nunca faço o que não tô a fim de fazer"

"NÃO QUERO PERDER A RAZÃO PRA GANHAR A VIDA, NEM PERDER A VIDA PRA GANHAR O PÃO" .... "NÃO É QUE EU FAÇA QUESTÃO DE SER FELIZ, EU SÓ QUERIA QUE PARASSEM DE MORRER DE FOME A UM PALMO DO MEU NARIZ"

7. A verdade a ver navios (Humberto Gessinger)

Para os críticos da época uma introdução semelhante a de "terra de gigantes" era o cúmulo da desonestidade com os fãs e da preguiça. Para os críticos (titãs e demais baba ovos do rock paulistano) os engenheiros eram mesmo ridículos. A introdução semelhante é para mim o maior exemplo de como a banda levava a sério seu trabalho conceitual. Eles não falavam que o ouça o que eu digo fazia parte da trilogia só por falar. A verdade a ver navios é uma música de muita importância pro disco. Sua melodia foi muito bem trabalhada. É uma linda canção de fato. Humberto não larga sua guitarra, Licks faz bem a base no teclado e Maltz encaixa bem as viradas. Penso na letra como sendo uma crítica aos que fazem músicas de críticas políticas apenas para fazer parte daquele movimento dos anos 80. Um pouco além de "eu também vou reclamar" do Raul Seixas. No fim da canção temos aquele famoso riff já comentado aqui no blog. Caracterizando o ouça ainda mais como parte da trilogia sul rio grandense dos engenheiros do hawaii.

Trechos favoritos:

"é impossível repetir o que só acontece uma vez, é impossível reprimir o que acontece toda vez que alguém acorda porque já não aguenta mais e acorda arrebenta do lado mais forte"

"é muito engraçado que todos tenham os mesmos sonhos e que o sonho nunca vire realidade"

"é muito engraçado que estejam do mesmo lado os que querem iluminar e os que querem iludir"

8. Tribos e tribunais (Humberto Gessinger)

Daquelas que ao vivo não deixava o mais pacato e tímido dos homens quieto. Tribos e tribunais nos oferece de tudo. Uma letra de protesto, guitarras alucinantes, linhas de baixo presentes e uma bateria acesa. Carlos tocou muito nessa música. Então aqui Augusto Licks realmente mostra para nós: é isso aqui que eu tenho pra vocês! Se acostumem com meus hammer-ons e pull-offs. De nada Augusto!
Cara! O que é isso? Se eu tivesse 15 anos naquela época e escutasse essa música eu virava o plano Bresser e Verão pra comprar uma guitarra e aprender com Augusto Licks e claro... as revistinhas de guitarra e violão.

Trechos favoritos:

"isso me sugere muita sujeira, isso não me cheira nada bem, tem muita gente se queimando na fogueira e muita pouca gente se dando muito bem"

"hindus, industriais, tribos e tribunais, pessoas que nunca aparecem ou aparecem demais"

"críticos de arte, arte pela arte, pink floyd sem roger waters, forma sem função"

"fascistas de direita, fascistas de esquerda, empresas sem fins lucrativos, empresas que lucram demais"

"E TODO DIA A GENTE INVENTA E FANTASIA, A GENTE TENTA TODO DIA, FEITO CEGOS, EGOS EM AGONIA"

9. Pra entender (Humberto Gessinger)

Estamos diante de uma das favoritas de Humberto. Tô com ele nessa! Pra entender é um musicão! Aqui se faz um power trio. Com liberdade e criatividade para todos. Licks continua no ritmo de tribos e tribunais e acaba com tudo. Ele é só frase em sua steinberger! O tempo todo! Humberto combina com Licks os arpejos envolvendo baixo e guitarra. Essa parceria baixo-guitarra com eles sempre funcionou. Carlos faz bom uso dos pratos nessa canção. Ele estava a cada álbum mostrando que era um baterista melhor.

Trecho favorito:

"pra entender, nada disso é tudo e tudo isso é fundamental"


10. Quem diria? (Humberto Gessinger)

Quem diria segue a linha de sob o tapete. Uma letra meio retrô que nos mostra Gessinger e seus romances frustrados. Aquela tipo assim: deixa eu fazer essa pra galera que tá com dor de cotovelo hehe. Talvez seja a canção mais simples do disco. Guitarras distorcidas no início que em seguida ficam clean. Uma linha de baixo que Gessinger faz questão de ser bem feita e um Maltz seguindo a simplicidade dos companheiros de banda. Simplicidade que se segue até o momento especial: o solo de guitarra de Licks. Um espetáculo! Sem comentários... apenas escutem.

Trechos favoritos

"quem diria que um dia a gente iria chegar ao fim, quem diria que seria assim, ninguém seria capaz de adivinhar, ninguém foi capaz de evitar"

"foi o que deveria ter sido se não fosse paixão"

11. Variações sobre o mesmo tema (Humberto Gessinger/Augusto Licks)

Chegamos a última canção do ouça o que eu digo. Variações sobre o mesmo tema é uma música importante pros rumos que a banda visualizava na carreira. Temos uma bateria que de cara intimida e te prende. E Humberto não deixa por menos na letra. Está entre as letras mais complexas da banda. O nome da música ainda terá uma relação futura como Augusto Licks mesmo cita uma certa vez: "várias variáveis, variações sobre um mesmo tema, tá tudo dentro disso aí". Variações é uma música de transição. A harmonia não é uma das grandes obras da banda. A primeira parte da música é mais voltada para a bateria e a letra doutrinária de Gessinger. Na segunda parte, muito fãs consideram um momento especial pois Augusto Licks pode recitar seus versos cult cinematográficos (nem todo veludo é azul) com sons de ventania ao fundo. A terceira parte é uma amostra de que o power trio dos pampas era bastante entrosado nos mostra que as variações tem um mesmo tema: o rock progressivo.

Trechos favoritos:

"eu tenho os meus problemas, você tem os seus, variações de um mesmo tema, Dylan e seus dilemas"

"se o rastro ficar invisível a olho nú, pois nossos olhos NÃO USAM BLACK TIE" (em referência ao clássico de Gianfrancesco Guarnieri: eles não usam black tie)

"o que não tem explicação, ninguém precisa explicar"

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Continua em breve com: TRILOGIA PARTE III - VÁRIAS VARIÁVEIS.

4 comentários:

Glauber Gorski disse...

"... precisando de mais venenos mortais..."

Glauber Gorski disse...

Engraçado... sempre considerei "Quem Diria" como uma música que antevia o fim da banda. Na época, em entrevistas, o trio dizia que esse era o último (!) disco da banda, de que eles não tinham mais nada a dizer. Isso é interessante se verificarmos que o disco seguinte é um registro ao vivo da história dos discos anteriores, e o disco seguinte - O Papa - seria uma grande brincadeira, nunca entendida e - ironia das ironias - o maior sucesso deles... Qume Diria eu ouvi muito quando da saída do Augusto. Ouça o Que eu digo em comprei em dezembro de 1988, um dos discos mais esperados na minha adolescência.

Diogo disse...

Cara, muito boa a análise do Ouça o que eu digo. A do Revolta dos Dândis também. Aguardo para em breve seu post sobre o 3º disco da trilogia: Várias Variáveis.

Valeu.

Unknown disse...

Muito bom!!!