"a dúvida é o preço da pureza"

Antes de escrever esse post (há muito em dívida), precisava e com certa necessidade, escutar o revolta dos dândis. Não poderia passar batido nenhum detalhe nas frases e símbolos nos apresentados nessa obra prima do rock tupiniquim. Afinal, é em A REVOLTA DOS DÂNDIS que Gessinger, Licks e Maltz começam a criar uma história, uma trajetória, um conceito de rock. Bem, era preciso escutar o revolta, mas ainda não é um post destinado ao álbum de estréia de GLM. Hoje, o revolta serve de base para debatermos o que a banda criou e definiu como sendo o norte do que seguiriam.

Fico pensando nas pessoas que gostavam do rock brasileiro nos anos 80. Em seu primeiro disco, oS Engenheiros já eram sim uma banda a se prestar atenção. Músicas como Toda Forma, Segurança e Sopa de Letrinhas tocavam a valer. Crônica, Eu ligo pra você e Todo Mundo é uma Ilha são composições de peso. Mas quem naquela época esperava pelo som e pelas idéias presentes em a revolta dos dândis?

Gessinger em suas composições não quer afirmar, mas afirma. Não há a rebeldia de Fé Nenhuma: "não levo fé nenhuma em nada". Há uma negação simplista: "já não vejo diferença entre a crença e os fiéis". Na década de 80 e começo de 90, muitos críticos tachavam Humberto como um cara que lia livros para citar trechos em suas canções. Mas para ele, isso não era vergonhoso. Fazia parte do argumento e como ele mesmo diz em Guardas da Fronteira: "não sou eu o mentiroso, foi Sartre que escreveu o livro".

E as pessoas se perguntavam: mas quem diabos é Sartre? E Camus?

Essa é a parte que toca em GLM. A informação, o discurso. Bacana é pegar um livro como "A PESTE" de Albert Camus e relacionar trechos de canções a obra. Em um momento do livro, o personagem de um jornalista não consegue pegar um trem para sair da cidade devido a uma epidemia e mostra indignação com o ocorrido. Algo como "eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem, que não passa por aqui, que não passa de ilusão".

Prender a atenção das pessoas para algo mais elaborado. Procurar citações, interpretar. Perguntar o que não foi explicado e o que não precisa de explicação. Foi assim que os Engenheiros conquistaram o seu público. A frase "quem tem pressa, não se interessa" cabe aqui.

Não sei se isso vêm da formação. Os caras do Pink Floyd também formaram a banda na faculdade de Arquitetura. Citações como "pensei que houvesse um muro entre o lado claro e o lado escuro" nos entregam! Não é coincidência.

As Engrenagens aparecem pela primeira vez em a revolta dos dândis. Ainda não significavam muita coisa. Futuramente, as pessoas entenderiam que as engrenagens giram no mesmo sentido da manivela. Havia a lógica da mecânica, mas também havia sentimento. Humberto nunca quis explicar a fundo e sempre fugia com frases como "pode crer que é uma coisa bem profunda". Esse mistério, esse abismo sem tamanho, essa paranóia toda significava muito pra quem conseguia ver "além dos outdoors".

Os interlúdios das músicas presentes nos álbuns: a revolta dos dândis (terra de gigantes, vozes), ouça o que eu digo: não ouça ninguém (a verdade a ver navios), várias variáveis (várias variáveis, descendo a serra) são um dos conceitos que rodeiam a idéia dos 3 discos com a bandeira do Rio Grande do Sul.

A sequência, a trilogia.

Toda essa coerência e todo esse sentido era válido e puro a partir do momento em que Humberto nos cantava:

"a dúvida é preço da pureza" ou

"nem toda forma de sentido, é sentida"!

+ VÍDEO!

C&A Shop Show 1988

http://rapidshare.com/files/146192924/Cea_show_-_A_Revolta_dos_D_ndis_2.asf.html

Agradecer ao FC Engrio pelo vídeo.

Amanhã um post com vídeos!

Abraço